sábado, 5 de março de 2011

Entrevista - JONAS LOPES

Aquela pergunta chata e batida: por que vocês decidiram passar a cantar em português e abreviar o nome da banda?
Decidimos cantar em português porque a gente achou que seria um bom desafio e um crescimento se compuséssemos em português. Isso tornaria a banda mais real, mais visceral. E nos daria mais identidade também, além de podermos pensar seriamente em uma divulgação mais midiática, mais popular, quem sabe... A gente faz música pra ser ouvido, no fim das contas, e estamos aqui no Brasil onde quase ninguém, pra falar a verdade, entende inglês. O nome continua em inglês, mas resolvemos simplificar pra acompanhar a concepção do disco em português. 

Vocês chegaram a sofrer represálias de fãs que não concordaram com a mudança de idioma?
Ah, sim... Ninguém, claro, chegou a bater em algum integrante. Mas certamente passamos por um processo meio tumultuado, porque criaram a ilusão que a gente era uma banda hype na cidade. Quando isso aconteceu, resolvemos mudar as coisas, então neguinho começou a nos esculachar. Até latada em show eu tomei. Mas a gente sabe o que quer e fazemos música porque gostamos, não para agradar a todos. Estamos muito satisfeitos com o que a banda faz e sabemos que, mesmo que a gente perca uns fãs xiitas, ganharemos outros. É o processo natural da música. Uns sempre vão achar um lixo aquilo que você acha genial. 

Você produziu o disco sozinho. Não teve medo de o resultado da produção ficar abaixo do esperado por não ter um produtor tão experiente por trás?
Medo eu tive, claro! Sou inexperiente como produtor, um aprendiz total. Mas contei com uma boa ajuda, fundamental até, do resto da banda, e eu voltei centenas de vezes ao estúdio para arrumar detalhes de mixagem que quase me deixaram maluco. Cheguei a mexer em coisas do disco sem comunicar o resto da banda, para não acharem que eu estava doido. Eu já não conseguia ouvir o disco sem achar um defeito, então tive que desistir da mixagem. Porque dizem que mixagem você não termina, você desiste.
No fim, acho que o disco ficou audível, mas está longe do que quero como um bom disco. Ainda há coisas que me incomodam muito nele, mas tenho consciência de que as pessoas ouvirão e acharão a gravação de ótima qualidade. Acho que para um próximo eu estarei mais preparado e as coisas vão soar muito melhores. 

Como rola o processo de composição do Violins? Todos compõem juntos e você chega com a letra depois?
Não. Eu componho letra e música – ou seja, a letra, uma base de guitarra e a melodia vocal. Então a gente se reúne e cada um faz sua parte em cima daquilo que eu montei sozinho. Estamos testando agora letras de outros integrantes também... Estou muito sobrecarregado. Mas, sério, na banda há ótimos talentos também como letristas e a gente precisa aproveitar melhor isso. O próximo disco deve ter letra que não é minha. 

As letras são bastante líricas, falam de sentimentos. Elas são autobiográficas? As pessoas costumam fazer interpretações pessoais delas?
Isso é uma coisa interessante que acontece, já que sempre que criticam uma letra identificam-na logo com minha vida pessoal. Eu acho que passo a impressão de estar cantando realmente sobre mim. Isso é um grande feito artístico, mas é também uma maldição. Porque você está exposto a todo tipo de metralhadora. É claro que há letras que não são autobiográficas, que são totalmente fictícias, mas eu desconfio que as pessoas acham que é sobre mim, a julgar pelo que leio na internet ou em resenhas de shows. 

Os arranjos de Aurora Prisma são cheios de cordas, metais e várias camadas de guitarras. Por que esta complexidade? Isso deve se manter no próximo disco?
Então, cara, não é uma coisa premeditada, do tipo “vamos fazer algo complexo”. É algo muito natural. A gente fica pensando no que pode ser feito pra tornar a música mais bonita. De repente, a gente pensou em mil coisas e tudo se torna meio complexo. Mas não é prepotência pura e simples. É uma prepotência canalizada e meio que involuntária. Há músicas em que não achamos que seja necessário acrescentar muito e então deixamo-las bem visceral, como “Auto-de-Fé”, “Auto-Paparazzi”, “Feche Seu Corpo”. Outras a gente acha que pedem mais arranjos e detalhes, então a coisa flui normalmente. O próximo disco deve conter, sim, arranjos orquestrados, mas as partes que não têm orquestra serão bem mais viscerais, com bem mais guitarras e peso. Já até começamos a fazer algumas coisas. No meio independente é assim: quando você lança seu disco, já não agüenta mais as músicas que estão nele. 

Goiânia é uma cidade muito roqueira, e a maioria das bandas é mais “pesada”, como MQN e Hang The Superstars. Vocês nunca ficaram meio deslocados na cena local?
Acho que não. A gente já fez shows com MQN e com o Hang, que são duas grandes bandas de rock. Aqui há um público que também curte o que fazemos, então a gente cumpre essa lacuna. Claro que não somos uma banda da tradição garageira de Goiânia. Mas isso até que é bom, dá um ar novo pras coisas que são daqui também. A Monstro está fazendo um ótimo trabalho abrindo esse leque e colocando no seu cast bandas que não são de garagem, como é o caso do Barfly, também daqui de Goiânia. 

Estando na Monstro, você acha que a distribuição das gravadoras independentes já é satisfatória com o Cartel? Vocês aceitariam um contrato com uma major, sabendo que dificilmente seriam a prioridade da gravadora?
Essa pergunta é difícil. Eu acho que a distribuição independente melhorou bastante, mas ainda não é a ideal. Mas, comparando com o que se tinha há uns cinco anos atrás, as coisas estão muito maiores e mais organizadas, com certeza. E tende a melhorar cada vez mais. Sobre isso de aceitar contrato com uma major, tudo depende, né, cara? Quem não quer gravar um disco com um bom orçamento e fazer turnê com estrutura? Você não precisa ser prioridade da gravadora, basta que você tenha seu disco como prioridade da sua vida. O primeiro passo pra fazer algo bom e sincero é não querer ser prioridade de nada que não seja você mesmo e seus companheiros de banda. 

Muito se reclama aqui no Brasil que não há uma segunda divisão de sucesso, uma estruturação maior do meio independente. Essa segunda divisão pode ser atingida? E quais são as principais deficiências desta cena independente?
A segunda divisão é bastante difícil de ser atingida. O que pode acontecer é que a segunda divisão obtenha uma visibilidade maior com a decadência da primeira. É como o jogo do Palmeiras e do Botafogo na série B. Chega uma hora que a segunda divisão começa a ter uma visibilidade que não pode ser negada, e aí o jogo vai pra televisão. As deficiências são todas fruto da falta de receita, justamente porque não se tem um esquemão por trás, não se tem grandes apoios e patrocinadores, porque o jogo não passa na TV. 

Na época do Wake Up And Dream, a imprensa costumava comparar vocês muito com o Radiohead. Como você acha que será a recepção ao Aurora Prisma?
Ah, eu tenho ouvido coisas geniais a respeito disso! A gente já foi comparado de Ivan Lins a 14 Bis, passando por Lô Borges e Clube da Esquina. Guilherme Arantes também! Eu acho isso muito interessante. Somos uma banda de jovens que nunca ouviram MPB. Tocamos guitarras ali no palco, com todo esse público jovem embaixo, e a referência mais próxima que conseguem nos colocar agora é Ivan Lins. Há algo de muito estranho nisso, no mínimo. Pra não dizer interessante. Mas, como eu sempre digo, muitas vezes falam isso como algo pejorativo. O cara te xinga de Ivan Lins. Eu sempre lembro que até Paul McCartney é fã do cara, daqueles de entrarem no camarim do Ivan depois de show. Então eu me sinto lisonjeado. E, enfim, que outra banda recebe tantas comparações mirabolantes? Se eu fosse um pouco mais inteligente, usaria isso a meu favor, como uma jogada de marketing... (risos) O único problema é que não consigo identificar essas referências no som. Acho que não tem muita coisa a ver, embora eu não seja a pessoa mais indicada pra falar. Só não compreendo. 

O que você tem ouvido, tanto daqui quanto de fora?
Daqui eu tenho ouvido Gram, ótima banda de São Paulo. De fora, no ano passado, eu ouvi muito Rufus Wainwright, Thrills, Death Cab For Cutie, Fire Theft. Enfim, ouço sempre muita coisa. Esses discos aí foram os que me deixaram felizes nesse ano. 

Quais são os planos do Violins para 2004?
Aquela coisa de sempre! Tocar e divulgar o disco. No fim do ano, preparar-se para gravar um outro, porque ninguém é de ferro e o tempo é ingrato com a gente. 

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